O menino se acinzenta no meio do concreto cinza, quadrado como o sol que vê nascer diariamente. Jovem e promissor, articulado e inteligente, mas não tão meticuloso como sabiamente deveria ser. A dura lição aprendida é a de que, no celular de barões, não se deve falar de tudo o que se quer. E, pelo teor das mensagens, parece-me inegável tratar-se de uma tentativa de chamar atenção — um mero ímpeto instintivo da juventude em busca de reconhecimento.
As mensagens entre Thiago Barbosa ao desembargador deixavam claro que não havia correspondência proporcional à linguagem enfática de Thiago. O jovem advogado enviava mensagens longas, extensas, falando do que ouvira, sabia e dizia ter, enquanto o desembargador apenas lhe devolvia algumas poucas palavras, como quem estivesse ocupado com coisas mais importantes ao longo do dia — de uma maneira que não ocorreria se ele realmente levasse a sério as informações do rapaz.
Talvez por distração ou pelo sentimento de intangibilidade, o desembargador deixou passar despercebidos os riscos de um jovem que queria chamar atenção por meio de mensagens estranhas em seu celular. O pior é que nem mesmo o governador dava atenção aos fatos narrados por Thiago — o que ele confidencia ao desembargador na tentativa de conquistar um aliado, mas acaba obtendo o oposto, expondo sua irrelevância para com o tio e se descredibilizando para o desembargador.
Um desembargador é experiente o suficiente para saber que, se um fato é realmente relevante, não lhe será entregue por meio do sobrinho do governador sob a justificativa de que “não está sendo ouvido”, mas sim pelo próprio governador, entre quatro paredes — preferencialmente, em sua própria casa.
Quem compreende juventude, linguagem e lógica, percebe que essa história está mal contada. Não pelo teor das mensagens em si, mas pelo fato de que elas tornam evidente que Thiago não era levado a sério. E, se não era levado a sério, não faria sentido ele forçar tanto para ser ouvido e aplaudido pelo lobby. Caso contrário, o conteúdo das mensagens teria sido bem diferente.
No fundo, se realmente possuísse tais informações, Thiago estaria provavelmente atuando como um grande advogado milionário, com acessos privilegiados — e não como assessor do Ministério Público. Se o governador acreditasse sequer 1% que seu sobrinho detinha informações sensíveis, não haveria qualquer contato entre Thiago e o desembargador. E se o desembargador realmente o levasse a sério, ele mesmo teria iniciado alguma conversa.
Mas o que se vê é que Thiago sempre foi o procurador da interação. Sua linguagem enfática parece apenas provar que não era levado a sério por ninguém. Sua prisão, por sua vez, soa mais como uma maneira de mantê-lo como refém de uma narrativa que interessa aos adversários do governador — narrativa da qual ele também é culpado, por tê-la alimentado como um réu confesso que se expôs a terceiros desinteressados no crédito de suas alegações de maneira tão ingênua nas mensagens de whatsapp.
E nessa busca por atenção Thiago causou muita chateação, chateação aos agentes da polícia federal, ao governador, ao prefeito da capital, à família, ao desembargador. Agora, no silêncio da cela, ele percebe: para quem está no poder, família , amigos e amor quase sempre ficam em segundo plano.