Mauro Carlesse deixou o governo do Tocantins em 2022, após ser alvo de operações policiais, mas hoje nenhuma das ações em curso o torna inelegível. Decisões recentes da Justiça reforçam a tese de perseguição: o TRF-1 anulou provas que sustentaram sua prisão preventiva, considerando o ato exagerado, e o STJ derrubou medidas cautelares ao apontar que parte das gravações foi feita fora do que a Justiça havia autorizado. A defesa também questiona a origem da investigação, iniciada pela Polícia Civil, quando o correto seria o acompanhamento do STJ. Até agora, Carlesse não foi condenado, e não há provas materiais conclusivas contra ele.
A força política de Carlesse não vem apenas do discurso de vítima. Ele carrega um conjunto de obras de grande impacto que ainda marcam os 139 municípios tocantinenses. Entre elas estão o Hospital Geral de Gurupi, a nova ponte em Porto Nacional, estradas reconstruídas, o Hospital Regional de Araguaína, a Faculdade de Medicina da Unitins em Augustinópolis e escolas de tempo integral espalhadas pelo interior. Cada uma dessas entregas reativa a lembrança de máquinas, recursos e obras concluídas, alimentando seu capital político enquanto sucessores ainda lutam por protagonismo. Tudo isso foi feito durante a pandemia, com pouco tempo, dinheiro e mobilidade — o que torna os resultados ainda mais expressivos.
Nos bastidores da política tocantinense, ganha força a ideia de que a narrativa de “perseguição sem provas”, agora respaldada por decisões judiciais, pode impulsionar Carlesse em 2026. Ele combina o discurso de vítima com a exibição de obras concretas — hospitais, escolas e estradas — que dialogam diretamente com o eleitor. Essa junção entre dor pessoal e entregas visíveis cria uma base eleitoral forte, difícil de ser igualada por outros pré-candidatos.
A eleição, por isso, deve equilibrar discurso e fatos: de um lado, Carlesse como gestor que se diz mais forte depois das crises; do outro, rivais que tentam manter viva a lembrança das investigações. Nesse duelo entre imagem e prova, quem ignorar o peso das obras feitas — e a força de quem se apresenta como vítima — pode repetir o erro de 2018, quando o “trabalho feito” falou mais alto.