Menos de quatro meses após levantar R$ 104 milhões com a emissão de um CRA, o megaprodutor rural João Batista Consentini conseguiu uma proteção judicial contra os credores, numa deterioração que chamou muita atenção de quem o acompanha de perto.
Com dívidas da ordem de R$ 700 milhões e um faturamento na casa de R$ 500 milhões por safra, Consentini recorreu à Justiça de Tocantins para ganhar fôlego enquanto tenta negociar uma solução com os credores.
O processo ainda corre em sigilo, mas The AgriBiz obteve a decisão em que o juiz Adriano Morelli concede 60 dias para o agricultor buscar uma solução, um prazo exíguo diante da complexidade da situação.
"Ele se atrapalhou muito, mas é um cara do bem.
Está na mesa para negociar", argumentou uma fonte que conhece Consentini. Segundo essa mesma fonte, a proteção contra os credores se tornou inevitável diante do risco de faltar caixa até para a folha de pagamentos.
Com uma área de 56 mil hectares, dos quais 32 mil com grãos, Consentini é mais um exemplo dos riscos da alavancagem excessiva na agricultura, que ficam evidentes em tempos de grãos em baixa.
Uma parte relevante das dívidas do produtor, que também possui uma área relevante de pecuária, foi montada nos áureos tempos da agricultura, quando Consentini adquiriu fazendas.
Agora, uma solução parece ser encontrar um comprador para parte das fazendas, dando liquidez para Consentini honrar o passivo. Se a renegociação não andar no prazo de 60 dias, é possível que o processo se torne uma recuperação judicial. Ao conceder a tutela, aliás, o juiz informou que a Agropecuária Consentini é uma "pessoa jurídica que busca a recuperação judicial".
A lista dos credores ainda não é pública, mas há pelo menos um Fiagro com o CRA de Consentini no portfólio: o RURA11, Fiagro da Itaú Asset. Em seu último informe trimestral, o RURA11 reportou uma posição de R$ 51 milhões no CRA de Consentini, o que representa apenas 3,2% do veículo.
Com mais de 60 devedores e um patrimônio da R$ 1,6 bilhões, o RURA11 é um dos mais diversificados do mercado, uma estratégia que limita o tamanho dos problemas em casos de inadimplência.
Em doze meses, o RURA11 distribuiu o equivalente a 13,99% em dividendos aos cotistas, 2,48 pontos percentuais acima do CDI. O spread médio nas operações do Fiagro é de CDI + 4,2% ao ano e vencimento médio de 2,3 anos.
No CRA de Consentini, a taxa saiu a CDI + 4,8% ao ano. Originalmente, o papel vence em 2030. A
Canal fez a securitização dos papéis.
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